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Repúdio à Chacina na Chapada dos Veadeiros reúne assinaturas de 134 entidades de movimentos sociais

  • Date : 31 de janeiro de 2022

Uma ampla rede de entidades da sociedade civil organizada, movimentos sociais, de defesa de direitos e da legalidade de Goiás, com a solidariedade de diversos estados brasileiros, manifestou-se por meio de uma nota pública contra a operação policial que provocou a morte de quatro pessoas quando o Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) da polícia militar de Goiás invadiu, sem mandado judicial ou investigação prévia, um assentamento localizado na zona rural de Cavalcante, após denúncia anônima da existência de uma plantação de cannabis no local, no dia 20 de janeiro de 2022.


A nota pública em repúdio à chacina promovida na Chapada dos Veadeiros pelo Estado de Goiás foi assinada por 134 organizações de todo o Brasil, que reuniram-se não apenas para denunciar a grave situação de violência policial endêmica existente em Goiás, mas também para apoiar a formação de uma rede de apoio solidário e jurídico às famílias das vítimas. Por meio da Avaaz, 3.235 pessoas de Goiás e outros estados também assinaram o documento.


Além da brutalidade da ação policial, causou perplexidade que o governador Ronaldo Caiado tenha se apressado em elogiar já no dia seguinte uma operação militar com fortes indícios de execução de quatro pessoas sem ao menos aguardar o resultado da perícia criminal ou uma investigação, segundo noticiou o @portalfalameupovo. Moradores e moradoras da Vila de São Jorge, que desde o início contestaram a versão da polícia e organizaram uma manifestação em defesa das vítimas em São Jorge no dia 23 de janeiro, exigem uma apuração justa do caso, bem como que o governador do Estado venha a público se retratar por ter parabenizado os policiais, que acabaram sendo afastados de suas funções e estão sendo investigados.

Inconsistências e ilegalidades Há, pelo menos, três graves ilegalidades na ação do GPT que disparou os 58 tiros que mataram Salviano, Ozanir, Chico Kalunga e Allan, sendo 40 deles de fuzis: violação de domicílio, ausência de mandado judicial e extrapolação de competência. Essa última configurada pelo fato dos policiais militares terem incinerado os pés de maconha. De acordo com a lei, quem incinera a droga é o delegado e isso foi feito

Inconsistências e ilegalidades


Há, pelo menos, três graves ilegalidades na ação do GPT que disparou os 58 tiros que mataram Salviano, Ozanir, Chico Kalunga e Allan, sendo 40 deles de fuzis: violação de domicílio, ausência de mandado judicial e extrapolação de competência. Essa última configurada pelo fato dos policiais militares terem incinerado os pés de maconha. De acordo com a lei, quem incinera a droga é o delegado e isso foi feito antes de sua chegada. Além disso, nenhum policial foi ferido na alegada troca de tiros relatada pela polícia militar e suspeita-se que os quatro homens teriam sido mortos sem reação e já rendidos. Segundo a polícia civil, nenhum deles possuía antecedentes criminais.

Quem eram as vítimas


Salviano Souza da Conceição (63 anos), assentado na chácara invadida pela polícia militar, é trabalhador rural e como um dos maiores conhecedores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, tornou-se também guia turísticos pioneiro da região.


Ozanir Batista da Silva (47 anos), conhecido como Jacaré, trabalhador rural, é filho de uma família pioneira em São Jorge. Estava no local para ajudar na colheita de uma lavoura de milho, segundo relato do irmão. Desempregado, sobrevivia de trabalhos informais de jardinagem e construção.


Antônio da Cunha Fernandes (35 anos), conhecido como Chico Kalunga era quilombola Kalunga, natural da Comunidade da Barra de Monte Alegre. Era trabalhador rural e estava desempregado, sobrevivendo também de trabalhos informais de jardinagem e construção. Grande conhecedor de plantas medicinais.


Alan Pereira Soares (27 anos), natural de Colinas do Sul. Após períodos de contratação formal com carteira assinada nas funções de entregador em loja de materiais de construção e auxiliar de máquina industrial, ficou desempregado e
passou a sobreviver de trabalhos informais como pintor, servente de pedreiro, pedreiro e diarista para capina de terrenos. Deixou uma filha de seis meses e uma companheira grávida de três meses.

Leia a carta de repúdio na íntegra.