“Eles agrediram e prenderam indígenas dissidentes e eu estaria morta também se eu não tivesse saído 30 minutos antes da minha casa em Ronda Alta, cidade próxima da Terra Indígena Serrinha. Encostou uma caminhonete com gente armada em frente à minha casa me procurando. Eu preferia não ter passado pelo trauma de ter que sumir do dia para noite e deixar todas as minhas coisas para trás.”
A declaração é de Fernanda Kaingáng, do Instituto Indígena Kaingáng. Ela se encontra exilada da Terra Indígena Serrinha desde outubro de 2021, por ter auxiliado o Conselho de Anciãos do Povo Kaingáng a denunciar o arrendamento ilegal das terras indígenas no Rio Grande do Sul, sob a chancela da Funai e do Ministério Público Federal, que beneficia os brancos do agronegócio plantadores de soja.
O conflito dentro das terras do Povo Kaingáng, junto com outros sete casos emblemáticos de violações de direitos humanos acompanhadas pelo Comitê Brasileiro, fazem parte da 4ª edição do dossiê: “Vidas em luta: criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil”.
Este e outros relatos estão neste estudo inédito e histórico no qual o Comitê Brasileiro analisa a precarização do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), como responsável pelo aumento de mortes e de ameaças a DDHs no país.