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“Prece”: Ativista brasileiro tem poesia publicada em desafio mundial

  • Date : 19 de junho de 2022

Ao todo, 438 defensoras e defensores de direitos humanos de 58 países ao redor do mundo se inscreveram para participar “Human Rights Defenders: Poetry Challenge”

Por Tatiana Lima

Nascido em Altamira, no Pará, Rafael Zan, tornou-se defensor de direitos humanos quando viu sua vida ser atravessada pela construção da hidrelétrica Belo Monte. Hoje, ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens – uma das organizações que compõem o CBDDH – ele não deixou que a luta e as mazelas sociais soterrassem sua pulsão pela arte.

Ao contrário: Rafael usa a arte como frente de resistência para denunciar a desigualdade social que assola a região norte do país, registrando os riscos e percalços do cotidiano de defensoras e defensores de direitos humanos no território da Amazônia.

Em “Prece”, uma das 40 poesias selecionados para participar do e-book “Human Rights Defenders: Poetry Challenge”, ele registra a fome e pergunta a Deus o por quê de tanta gente sofrer. E, pergunta de um jeito, que dá um nó na garganta e emociona, mas revela que não perde a fé.

“Já são seis da manhã

Alvorada se aproxima

Vou preparar meu café

Rezo para que o mude o clima

E os que se arrastam pelo chão

Fiquem de pé”

 

 Ao todo, 438 defensoras e defensores de direitos humanos de 58 países ao redor do mundo se inscreveram para participar Human Rights Defenders: Poetry Challenge, organizado pela Protection Internacional, organização que apoia ddhs no desenvolvimento de estratégias de gestão de segurança e proteção.

O concurso anunciou os três vencedores do desafio na última quarta-feira, dia 15 de junho, em um evento com leituras das poesias finalistas e a participação e defensoras e defensores de direitos humanos de diversos países.

‘Prece’, não foi para o pódio, mas não deixou de ganhar reconhecimento internacional uma vez que está entre as 40 poesias selecionadas publicadas no livro digital “Human Rights Defenders: Poetry Challenge”, com versões original (língua materna) e em inglês.

Rafa – como é carinhosamente chamado pelos amigos e amigas – contou para o Comitê como foi participar do concurso.  Em texto em primeira pessoa, ele narra como foi participar deste Desafio de Poesia Mundial voltada para defensoras e defensores de direitos humanos.

Arte é potência de denúncia

“Sou nascido em Altamira no Pará. Criado pelo mundo eu via muitas dificuldades na vida por não ter um porto seguro. Quando começou a construção da hidrelétrica de Belo Monte vi que muitas famílias estavam tendo seus direitos violados. Quando sofri diretamente isso, comecei a participar do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e percebi que não estava sozinho. Inseri-me no movimento e de lá para cá faço minha militância para que outras famílias não percam seus direitos.

Quando se fala em Amazônia dentro desse contexto, fala-se das mais diversas ameaças que os defensores de direitos humanos sofrem. E, historicamente, já sabemos que muitos foram assassinados por serem ddhs, pois são criminalizados e invisibilizados. Os casos ocorridos dentro do MAB, por exemplo, incluem Nicinha, de Rondônia, em 2016, bem como a Dilma Ferreita, do Pará, em 2019. Há diversos casos de ameaça que sofremos até hoje nos fazendo estar sempre alerta para essas violências.

Participar desse desafio mundial de poesia sobre defensores de direitos humanos é acreditar que a arte é potência de denúncia: águas para a vida e não para a morte!

Nesta poesia fui inspirado por meus desafios de vida que me trouxeram a visão crítica de mundo desde muito cedo na luta por direitos humanos na Amazônia. Participaram 438 poemas de 58 países e representar a Amazônia no Desafio de Poesia Mundial sobre Defensores de Direitos Humanos da International Protection, entre os trinta finalistas no mundo e os cinco finalistas de língua portuguesa, representa que apesar de estarmos vivendo um desgoverno que institui a necropolítica da vida e da arte não desistiremos de poetisar, esperançar e avançar na luta.”, Rafael Zãn.

Assista Rafael Zãn, declamando ‘Prece’ no vídeo arte.