Nesta quarta-feira, 30 de outubro, foi iniciado, por meio de Júri Popular, o julgamento do caso de assassinato da vereadora e defensora de direitos humanos Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes
O dia foi iniciado com o “Amanhecer por Marielle e Anderson”, em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no Centro do Rio de Janeiro, onde familiares, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, partidos políticos e populares prestaram homenagens às vítimas, relembraram suas lutas e exigiram justiça. O ato culminou em uma caminhada até a estátua de Marielle Franco, localizada no Buraco do Lume, tradicional local de manifestações sociais na capital fluminense.
Júri do Tribunal
Depoimentos emocionantes constaram na pauta do dia: a testemunha Fernanda Chaves (ex-assessora e amiga de Marielle, além de sobrevivente do atentado); as falas da mãe de Marielle Franco, Dona Marinete Silva, e de Mônica Benício (vereadora da cidade do Rio de Janeiro e viúva da vereadora); e da esposa do motorista Anderson Gomes, Agatha Reis, que revelou detalhes da vida que teve com o marido e o filho antes do assassinato. Além delas, o julgamento contou com a exposição de testemunhas técnicas.
“A Marielle era a princípio uma defensora de direitos humanos e, nesse escopo, a defesa da moradia sempre foi pauta da Marielle desde antes dela ser vereadora. Na Câmara, logo que empossou, ela pegou a presidência da comissão da mulher. A questão de gênero era uma espinha dorsal para Marielle, inclusive para falar sobre moradia”, Fernanda Chaves.
E completou: “A gente saiu do Rio de Janeiro, saímos escoltados e abaixados no carro. Eu estava de boné. Parecia que estávamos fugindo. Quando o avião decolou, minha filha perguntou: “Mamãe, o que é assassinato?”.
O depoimento foi dado de maneira remota. Fernanda descreveu o crime com detalhes e afirmou que, quando conseguiu sair do carro recém-alvejado por tiros, ela “não queria admitir que ela [Marielle] pudesse estar morta. Eu queria acreditar que ela estava viva, então minha única preocupação era chamar uma ambulância”.
“A Marielle foi uma criança desejada, saudável, fruto de uma boa gravidez. Marielle chega com todo carinho que uma mãe podia ter, teve a graça de ter avó presente, que levou três dias de ônibus de João Pessoa até o Rio. Foi um dia bonito, eu me arrumei pra poder parir minha filha. (…) Não tem como definir minha dor e o que eu passei esses anos, passei por um câncer, fiz quatro cirurgias e to aqui hoje, falo isso pra afirmar como esse momento de busca por justiça é importante. Até hoje é doloroso conviver com esse vazio. a falta que uma filha faz, ela era minha primogênita, me dediquei a vida inteira pra criar com muito sacrifício, o que não é diferente do que passam outras mães que também perderam seus filhos. Ela foi um pedaço de mim que foi tirado, cada vez mais doí muito”, disse Dona Marinete.
E concluiu na primeira parte do depoimento. “Eu nunca desisti desse dia, o dia do julgamento dos assassinos da Marielle. Tentaram apagar a memória da Marielle até depois da morte dela. Foram muitas fake news sobre a história e trajetória dela. Eu não deixei ninguém cair nesse período em que lutamos por justiça. Eu venho de uma família de muita luta, de muitas mulheres que esperaram a cada dia”.
Mônica Benício, vereador do Rio de Janeiro e viúva de Marielle, extremamente emocionada, destacou: “Marielle era uma das pessoas mais companheiras que já conheci, no sentido mais generoso e bonito que essa palavra pode ter. Era a amiga que você podia ligar de madrugada porque ia te atender, ia parar o que estivesse fazendo, sair de pijama se fosse necessário pra poder ajudar. Uma pessoa energética, muito afetuosa, tudo pra ela virava um grande evento, você marcava um café, virava uma festa. Fora era a cuidadora, em casa era a pessoa que se permitia ser cuidada. Uma pessoa com um poder de empatia que nunca vi. Via e lia a vida das pessoas com uma generosidade e uma solidariedade muito bonita”.
“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson. Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘tudo que eu fizesse a partir dali seria a 1ª vez sem o Anderson’”, contou, visivelmente emocionada.
O Júri Popular seria retomado na quinta-feira, 31, na parte da manhã. Porém, o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro que julga, os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, decidiu dar prosseguimento aos trabalhos na noite do dia 30. a expectativa é que a condenação dos réus seja anunciada nas próximas horas.
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